Ser bissexual, na minha
opinião já não é uma tarefa das mais fáceis, imagine sendo mulher e negra
então! Como mulher eu enfrento machismo e misoginia, o machismo até mesmo de
algumas mulheres lésbicas, e ainda só pra completar o combo de discriminação, o
racismo. Não, isso NÃO É VITIMISMO, é
uma REALIDADE! Só pra começar, já se
torna um pouco mais difícil encontrar relacionamentos fixos, porque enquanto
bissexual, as lésbicas temem que eu as troque por um homem e já pressupõe isso
de antemão, sem ao menos conhecer minha história de vida; os homens cis héteros
me vêem como um mero objeto sexual, sendo negros ou brancos, principalmente se
forem brancos, fora a questão do padrão de beleza supervalorizado que ainda é o
eurocêntrico, onde as mulheres brancas, de cabelos mais lisos e traços “finos”
ainda são as mais visadas por eles e também por algumas mulheres lésbicas e
bissexuais. Quantas vezes no meu “passado
hetero” eu já não via só as gurias brancas ou de belos lisos com quem eu saía
pras baladas serem as mais abordadas e eu não? Isso já diz muita coisa. Ia a psicólogos,
fazia terapia, e sempre culpavam alguma outra característica minha, fosse no
jeito de ser ou de me vestir. E no
geral, as pessoas tendem erroneamente a culpabilizar sua “falta de auto-estima”,
mas como ter boa auto estima sendo deixada de lado por nada? E eu ate tentava “mudar”, me produzir mais,
ser um pouco mais séria, mas parecia inútil, nada mudava. Mas por que só eu, com tanta gente no
mundo cheia de defeitos, mas sempre rodeadas de gente pra namorar, tinha que mudar
alguma coisa? Só por ser negra? Era como me dizerem que, “já que você nasceu
com esse ‘defeito de fábrica’, deve agir ‘certo’ e fazer algo de proveitoso pra
‘superar’ esse fato e ser um pouco mais aceita”. Mas isso não acontece só com negras, acontece
também com as deficientes (especiais), gordas e garotas fora dos padrões de
beleza em geral, normalmente são marginalizadas, desmoralizadas e desprezadas
pelos homens héteros, como se toda mulher tivesse a obrigação de ser bonita pra
atender as exigências e necessidades exclusivas deles!! Mas a pergunta é, por que alguém considerado
fora do que a sociedade considera “normal”, certo, bonito, agradável, tem que
se esforçar mais pra ser mais bonzinho, mais correto, e no final das contas,
continua a ser desvalorizado? Que hipocrisia tão grande é essa que a
sociedade tem mania de carregar e insiste em sustentar? Por que simplesmente não
podemos ser nós mesmas, com nossos defeitos e desigualdades perante à sociedade?
Ora! Nós só queremos ser livres, inclusive de padrões pré- estabelecidos de
como se portar, caso sejamos as “coisinhas incomodas”. Porra! Será que já não é
o suficiente, além de já ter de carregar essa cruz do preconceito e exclusão
social, ainda sermos cobradas de como devemos ser e do que devemos ter, mas
tudo isso...em vão? As lésbicas não ficam
muito atrás não, estão cada vez mais exigentes, querem mulheres não bissexuais,
sem filhos ou sem o desejo de tê-los, mulheres lindas, magras, loiras...e tudo
isso não é apenas por um gosto pessoal, mas sim por uma preocupação em denotar status
social ! Quer dizer que se você é visto com alguém atraente,
então se torna mais interessante. Se está com alguém abastado financeiramente,
logo é visto como alguém importante. No homem
hétero sempre foi alimentada a ideia machista de que, pra ser o bom, tem
que ter uma mulher gostosa do lado, pra mostrar pros amigos e pra família que
ele é o cara, e mesmo se ela não for tão bela, tem que ser uma branca
de cabelo lisinho e comprido. Tudo isso com a desculpa de querer “filhos mais saudáveis”,
mas também tem a questão de querer “manter a linhagem”, manter a supremacia e permanência
do que é considerado maioria, ou seja, dos indivíduos brancos, mesmo sabendo
que no Brasil não há só pessoas brancas. Ficam pensando no que a família vai
pensar dele com uma “negrinha”. Mesmo que ele consiga gostar dela, vai querer
fazer bonito. Se ele curtir ficar até deixa rolar, mas jamais vai assumi-la
oficialmente numa relação séria. No blogueiras
negras, muitas (héteros) reclamam não só de preterimento, mas também de relações
abusivas e de regime de submissão quando estão com brancos, e até mesmo com
alguns negros. Isso tudo leva à uma falta de opção (e boas opções), e elas
acabam se submetendo a relacionamentos com homens que não desejam tanto só pra não
ficar sozinhas, mas mesmo assim sentem aquela solidão, então com ou sem relacionamento
e sendo como consequência um celibato (solteirice) imposto devido à falta de
opção, se origina a solidão da mulher negra, pois os negros comparados à elas não
tem tanto os mesmos problemas, pois alcançando um bom nível sócio-financeiro
conseguem arranjar namoradas, brancas ou não. Mas e as mulheres? Se não vão gerar filhos entre
si, pra que querem apenas as brancas? Vaidade, talvez. Vergonha de estar com uma negra , em alguns
casos já pelo problema de se assumir como bi/lésbica, ainda ter que lidar com
questionamentos por parte de uma família racista em potencial? Ninguém quer ter
esse trabalho! Eu bem que gostaria de fazer parte deste nicho de “shiny happy
people”, ou seja, as pessoas que atraem alguém (ou varias pessoas) facilmente por
algum motivo, sem muito esforço, seja por uma bela aparência ou por alguma outra
coisa que cative de imediato as pessoas. Há tempos vejo que só ser inteligente,
divertida, amigável e interada não resolve, não é o suficiente. Você precisa
ser “brilhante e feliz” (shiny happy people) o tempo todo, senão nem rola! Será
sempre (e apenas) a ‘miguxa fofa’. O problema
não está em ser amiga, mas se resumir apenas à essa condição. Mas isso de
atrair pessoas como “abelha no mel” é um dom, um fascínio, ou você nasce com
ele ou não o tem. Não tem como adquiri-lo. Mas na verdade o problema não é com você, e
sim com a sociedade e o sistema, que fazem questão de tirar ou minimizar o “brilho
natural” de algumas pessoas, em prol de manter o que é considerado maioria,
superior, que pra elas é digno de ser sempre favorecido, e o “de baixo” sempre
jogado pro lado, rebaixado. Nada que não
dê status ou não traga sucesso imediato deve ser tolerado. Algumas pessoas ainda
acham que os bi e homossexuais não merecem direitos reconhecidos, nem ser
favorecidos e logo não merecem nem respeito por achar que a maioria seja
hétero, o que acho um grande equivoco. Errado! Todo mundo tem direito de ser
quem é, mesmo que muitos não gostem! Meu,
se não gosta, não procura, mas para de querer ficar moldando o outro à sua maneira,
porque “quem sabe assim de repente você goste um pouco”. Se não gosta e não se
abrir pra isso, não vai gostar nunca! Então procure o que te faz feliz e deixa
o outro em paz! Não faça dele/dela teu objeto de desprezo e projeção de
inseguranças e frustração. O nosso “pacote”
é esse, é o que temos a oferecer, se tiverem que gostar da gente, será como
somos, com nossas características, sejam boas ou ruins. Eu esperou dia poder
sair dessa limitação criada e imposta pelas circunstâncias e encontrar alguém que
goste de mim e me aceite verdadeiramente como eu sou, negra e bissexual.
Esse texto explica bem sobre o sentimento de solidão da mulher negra, mesmo sendo voltado para o lado hétero, mas isso acontece em todos os meios: A cor da relação: Mulheres negras e as dificuldades com romances sérios
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